Pela minha honra e pelo meu nome, Sire, juro. Nunca mais os de Selongey pegarão em armas contra o Rei de França.
Agradecemos-vos! Bem, donna Fiora, eis-vos em família. É a vós que confiamos este rebelde! É a vós que cabe a sua guarda e nós não duvidamos...
Não, Sire, por piedade! Eu não quero essa responsabilidade...
Fazei dela o que quiserdes! Damos-vos as boas-tardes. Então, minha filha acrescentou ele, virando-se para a duquesa de Orleães estais contente?
Estou, Sire! Na verdade, nunca duvidei da vossa justiça. Mas, por que infligistes a donna Fiora esta longa penitência, esta angústia, este medo de perder a vida? Tínheis mesmo necessidade de apelar a Deus?
Sempre a falar, ela e Luís XI afastaram-se na direcção dos aposentos reais. O Rei sorriu e, baixando a voz, inclinou-se para ser mais bem ouvido:
É evidente que não! Compreendi rapidamente que aquela infeliz era vítima de uma conspiração, mas era preciso que todos a acreditassem em perigo de vida para conseguir que o teimoso do marido saísse do seu covil...
Mas, e ela? Por que não a avisastes?
Porque, mesmo assim, ela cometeu suficientes tolices para merecer uma boa lição. E proíbo-vos de lhe dizer seja o que for. Não gosto muito de explicar os meandros dos meus pensamentos! E agora, minha filha, vamos para a mesa! Na verdade, tudo isto me abriu o apetite!
Fiora, com Philippe, o filho de ambos e Léonarde, regressavam a cavalo à Casa das Pervincas, mas os dois esposos ainda não tinham trocado uma única palavra. Selongey levava o filho diante de si, na sela, e não cessava de o contemplar. Entretanto, Fiora sentia-se triste por o seu marido não ter dado sinais, até ao momento, de que ela existia. Ele e o pequenito pareciam fechados num mundo só deles, um mundo onde não havia lugar para ela...
Assim, quando atingiram a alameda de carvalhos cheios de musgo que ia dar à casa, a jovem aproximou-se do marido.
Philippe! disse ela com uma voz que não tremia, pelo que se sentiu agradecida antes que entres nesta casa e como o Rei me deu todos os poderes acerca do teu destino, quero dizer-te...
O quê?
Quero dizer-te que és livre, inteiramente livre! Se quiseres regressar a Nancy, podes fazê-lo quando quiseres, sem me dar quaisquer explicações!
Se bem compreendo, não me queres oferecer hospitalidade nesta casa!
És louco? É claro que quero! É o que mais desejo!
Mas queres gozá-la sozinha, como, aliás, queres Selongey só para ti, assim como esta adorável amostra de homem! Expulsas-me, não é assim? É verdade que eu mereço e que tens todo o direito de recusar viver comigo.
O borgonhês pusera pé em terra e, confiando o petiz a Léonarde, oferecia a mão a Fiora para a ajudar a desmontar. Ela sentiu como que um deslumbramento. Ele olhava para ela como antigamente, com os seus olhos cor de avelã, com aquela ternura um pouco trocista de que ela gostava tanto e, sobretudo, sorria-lhe...
Eu nunca desejei outra coisa que não fosse viver contigo, Philippe!
Ele não lhe largou a mão e puxou-a para si:
Sabes que eu sou um homem impossível!
Sei, mas eu também não sou um modelo de paciência...
Há muito tempo que sei isso. Queres, mesmo assim, tentar viver juntos e formar um casal... até que a morte nos separe?
Como resposta, ela encostou-se a ele, ao mesmo tempo que os habitantes de la Rabaudière acorriam alegremente para lhes desejar as boas-vindas.
Até que a morte nos separe repetiu ela com fervor... Achas que conseguiremos lá chegar?
Acabo de to dizer: podemos sempre tentar...
E, apertados um contra o outro, entraram na casa perfumada pelo odor das rosas recentemente colhidas e dos bolos que Péronnelle acabava de tirar do forno.
Mas nunca foi possível saber o que acontecera a Khatoun...
Saint-Mandé, Setembro de 1989.
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